domingo, 25 de outubro de 2009

Novo blog

Veja novo blog em http://helopait.wordpress.com.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Novela maravilhosamente...

ruim. Mas tudo bem, vejo quando posso, e adoro. Hoje teve imagens daquelas ruínas romanas da Jordânia, que coisa bonita. Se não fosse o canastra do Thiago Lacerda seria um espetáculo, mesmo com a modelo vestida para desfile andando naquele sol acachapante. Encontro com estranhos em viagem eu tive a minha cota, e garanto que nunca tem a ceninha da cobra. Paris não foi tão legal, ficou mais no quarto do hotel do Projac mesmo. Mas Petra foi supimpa.

As tramas não te envolvem de jeito nenhum, uns romances insossos. Ai, saudades do Felipe Barreto, do Renata Mendes, vilão com nome e sobrenome. Mas é ótimo, você fica vendo o mar de Búzios, se imaginando na pousadinha comendo peixe com molho de maracujá, farofa de banana e tomando caipirinha de jabuticaba, ou sei lá o que que esse povo de pousada inventa. Sem ninguém para se identificar, sem ninguém para projetar seus problemas e angústias, uma nova dimensão à palavra alienação. Que novela boa.

O Rio também fica muito bem na novela. As cores bem vivas, as paisagens espetaculares. E ninguém na tela, nem uma pessoazinha dando o duro que você dá, é uma pausa mesmo na vida. Tem bêbada e adolescente grávida, isso tem. O que decidamente não é minha praia, a nível de problema. Até drama francês tem mais a ver. Uma suspensão cerebral. Tanto falaram mal da novela que eles resolveram fazer uma assim. "Ah, é? Chiclete pros olhos? Agora vocês vão ver o que é chiclete pros olhos!"

Só tem aquele suspense de que a cada segundo alguém vai bater o carro e se espatifar todo. Ou a lancha, pois tudo na Globo é mais upgraded que na vida real. Mas eu não me preocupo. Só vejo os sorrisos na tela como mais artificiais ainda, mais remotos ainda, mais parte de uma paisagem que eu até queria fazer parte, quem sabe em Janeiro? Quem sabe não vou para Petra em janeiro, de bermuda, viseira e Timberlands?

Ou para o Rio, que é bem perto. Ou para Búzios. Paraty. Tá bom, Ubatuba. Quem sabe não vou em janeiro para Ubatuba?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sucesso de crítica e público!

Disse minha sobrinha: "eu assisti e adorei!" Então fui consagrada por esse estrondoso sucesso de público e crítica, internacional ainda por cima. Veja em http://www.teatroparaalguem.com.br/casa.

Mas duas coisas me impressionaram nessa experiência de ver um conto meu representado no teatro. A primeira, a interpretação de Priscila Gontijo, que cria um novo personagem baseado na lembrança que tenho do meu pai. Aquele diálogo que tive com meu pai, anos atrás, registrado no papel, vira uma outra coisa ali no palco. Que é meu pai mas ao mesmo tempo é um pai geral que "nunca fez um elogio rasgado" mas que encontra na filha uma interlocutora. A direção da Renata também foi muito bacana, mas não foi surpresa: eu já tinha visto ela em ação em "O Vatapum", breve no YouTube.

A outra coisa que me surpreendeu, me deixou feliz mesmo, foi a conversa pós-peça com José Pinheiro, o Lucas do Estadão e quem mais se sentou à mesa de jantar para ficar papeando. Pois falamos de tudo: de cultura, de inserção social, de novos meios, de pedagogia, dos jovens, do financiamento das artes, de tudo mesmo. Se aquilo não foi uma sala de aula, não sei o que seja.

A uma certa altura a Priscila conta o que faz nos Céus, traz livros, referências. Traz Dostoievski e Caio Fernando Abreu. Distribui, pede que escolham, trabalha em cima, os alunos adoram. "Por que me dizem para não impor minhas referências?" Ela perguntou querendo saber mesmo, querendo a opinião da roda. Eu contei que era a pedagogia moderna mal compreendida, do respeito às referências do aluno se passou sem pensar à imobilidade docente. "Mas não lute contra," aconselhei. "Faça seu trabalho que é correto e deixe essa discussão de lado, pois a batalha é inglória."

Mas não contei que meu pai trazia livros grandes e pesados, subia as escadas da Belas Artes arfando para mostrar aos alunos. Pois ela havia interpretado o meu pai, então ele já estava ali de tantas formas que seria até exagero.

O "Teatro para Alguém", para mim, ficou como um espaço de reflexão e de produção simples, sem frescura, de significados, um lugar para dar vida às coisas. Precisa se financiar, claro, mas precisa também manter essa coisa simples, sem burocracia, de criar textos, chamar gente, criar sentidos. Fazer acontecer. Um palco na casa e uma conexão na internet.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Deu no Estadão!


O time do povão

Maravilhada com o jogo, fui discutir com os alunos, numa turma muito dedicada onde há um marxista. Mas um marxista como hoje em dia só há em Marília, não se encontra mais em outras partes do mundo. Em minha fase zen, não o confronto quando fala em ideologias burguesas, pois aprendi que a gente na sala de aula tem que mostrar novos horizontes, e não debater política.

Falei dos vendedores ambulantes que mais pareciam mordomos, nos mostrando o lugar onde sentar e até o amigo perdido na multidão. Falei do policial que me recebeu como se fosse também um cavaleiro da rainha para a festa da coroação, muito diferente da expectativa que eu tinha, de ser tratada como gado. Não contei que fiquei desapontada com o policial não me revistar, mas essas coisas na sala de aula a gente não conta.

Falei da festa que é um jogo, mas também dos palavrões ditos por todos contra todos, e que naquele clima de festa pareciam não ferir, não incomodar ninguém. Recomendei às meninas que fossem ver jogos de futebol, pois aquela sociabilidade é a sociabilidade de verdade dos brasileiros, que penetra na sala de aula e deixa os pedagogos aflitos, então é bom entendê-la.

Os alunos me contaram que quando joga o Corinthians quem não é corinthiano sempre torce contra, independentemente do adversário. Eu fiquei chocada, é verdade isso? Dizem que no interior ao menos é assim. Mas por que, eu perguntei, é assim? Inveja não será, pois o time tem suas fases ruins. Havíamos lido Simmel, que estuda as formas sociais, os conflitos independentemente de seus conteúdos. Então aí havia um exemplo concreto onde eu poderia empregar os conceitos do autor, mostrando como a sociologia pode ser uma ciência viva.

Foram tentando explicações. Um disse: por isso mesmo, a torcida é unida, e cresce com as dificuldades. Aí está um motivo de acirramento da rivalidade, um adversário que cresce com a adversidade dá raiva mesmo. Impossível de derrotar. O marxista soltou: Corinthians é um time do povão, da massa, então eles têm raiva mesmo.

As alunas da frente olharam para mim. Será que agora eu iria contestar? Aquilo era o fim da fase zen? "Ele tem razão", eu disse. Acho que é isso mesmo. O time do povão.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Por que me ufano de meu país

Achei que chegando aqui esse deslumbramento com o Brasil durasse duas semanas. Matada a saudade, ia voltar logo o espírito lacerdista que todo brasileiro alfabetizado tem dentro si, essa vontade de achar erros em tudo e equívocos em todos.


Mas não. Já lá se vão 4 meses, e nada. Continuo encantada. Maravilhada. As tramóias do José Sarney - o colapso da instituição senado federal, dizem os críticos que eu respeito - me parecem meio quaint, meio fofinhas. A censura ao Estadão me preocupa, mas é agora uma preocupação mais racional que indignada.

Então, ainda cumprindo um programa que eu não sei se é de turista que bate palmas ou de brasileiro apaixonado, fui ao Estádio do Pacaembu ver o Corinthians jogar. Olhem só a foto, a Gaviões ao fundo. Fui mesmo.

Antes, tinha visto o mesmo Corinthians jogar no Morumbi contra o Palmeiras, com o Felipão e o Jarbas. E em New Jersey vi o Brasil contra o resto do mundo, depois de uma copa que vencemos. Quem pagou foi a companhia telefônica, com quem eu deixava uma boa parte da bolsa.

O primeiro tempo foi lindo. Me envolvi, torci, prendi a respiração, celebrei, levantei da cadeira com a torcida, muito gozado. Depois cansei um pouco, os jogadores também. Dois gaúchos foram em cima do Ronaldo e ele caiu. Me dei conta de que ele era um sujeito de verdade, que até morava em São Paulo, antes para mim ele era um produto, uma coisa da mídia, sei lá. Mas ali estava ele, pertinho, gordo, artilheiro, no chão.

Entendi todas as regras. Vocês não sabem o que é ver um jogo de futebol americano inteiro sem entender patavinas. Final do campeonato. Na casa de totais desconhecidos que, essas coisas mágicas de visitantes em cidades estranhas, me acolheram como da família, me explicaram as regras que só no finalzinho compreendi.

Ainda continua.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Malpertuis

Ontem fui ver Malpertuis, filme dos anos 70 no qual Orson Welles atua. Num papel estilo Marlon Brando em Apocalypse Now. Havia outros filmes que eu queria ver, mas Malpertuis me marcou muito quando o vi, há 20 anos, e queria revê-lo, me rever.

O filme é onírico. Você não sabe o que é real e o que não é. De fato, eu me lembrava do personagem principal correndo nas ruas de uma antiga cidade meio deserta, como fazemos nos sonhos, em busca de algo meio arbitrário. No filme, ele - Yann? - entra e sai de três realidades distintas - há uma quarta ainda a que eles se referem - mas nas três Yann é sempre levado, empurrado, atraído. Nunca faz de fato nada. Sempre, como nos sonhos, vai com a corrente, surpreso, incomformado.

Eu adorei esse filme quando o vi na faculdade. Lembrava da roupa branca e solta do protagonista. Lembrava da cidade deserta. Não lembrava tanto de Malpertuis, o casarão onde se passa a maior parte da ação, Orson Welles, o enredo. Isso, não lembrava do enredo. Mas por que gostei do filme? Como é que não achei barroco? O que vi de erótico no portagonista andrógeno?

Fiquei tentando falar comigo, entrar em outro plano. A cada pulo do filme eu tentava eu mesma pular naquela outra realidade, anos 80, faculdade, talvez o mesmo cinema, Belas Artes. Ou, mais provável, Cinemateca em Pinheiros. Malpertuis.

Mas o filme, a película, estava gasta. E o filme que eu havia visto tinha cores fortes. A filmagem era brilhante, e nessa havia aquela estética anos 70, démodé. O homem bonito me pareceu por demais o Brüno, loiro e afetado. As referências aos deuses gregos meio forçadas. O advogado algoz, estilo Rosencrantz e Guildenstern, me incomodou.

Então essas passagens abruptas de uma realidade a outra ficaram no filme mesmo. Eu mesma, estudante, não estava lá, não abri uma porta qualquer e me vi. Voltei sozinha, real.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Aula extravasada

As aulas ficam concentradas num dia só; no meu caso quarta-feira. Das 8 às 11:30 e depois num horário secreto, que não está escrito em lugar algum, que acredito ser das 7:30 às 10:30. Por um lado muito prático, mas por outro cansativo, pois é bastante aula num dia só, que vai das 12 às 12.

Mas parece que não falei tudo. Não respondi todas as questões, não pedi atenção a todos os conceitos importantes. Contei causos, isso fiz. Contei a histórias das duas feijoadas em Pittsburgh para explicar o conceito de sociabilidade de Simmel, e analisei uma reunião estudantil para discutir o bandeijão para explicar o conceito de grupos do mesmo autor.

Pois, para você leitor acima de 40, revelo que os alunos continuam discutindo o bandeijão como nos anos 80, nas universidades públicas brasileiras. Caíram muros e prédios, já lá se vai um quarto de século, mas os alunos continuam discutindo o bandeijão.

Não importa; o que importa é essa sensação de que faltou falar alguma coisa, de que a aula não acabou, se extravasa pelos outros dias sem aula da semana. Imagens: os alunos com seus textos grifados, discutindo entre si, se referindo às leituras complementares.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Um país qualquer

Meu irmão me chamou a atenção para um artigo da Leda Paulani, minha orientadora de mestrado, sobre o novo livro de Krugman. Meu irmão é fã de Krugman. Eu tenho uma certa saudade da comida da Terezinha, mas acho que ídolo mesmo eu não sei se tenho mais.

Respeito por Krugman eu tenho. Pela galera do MIT em geral, tive aulas com o Toledo e acho que eles entendem mesmo de economia. Aí fui ler o artigo. Achei ele aqui: http://outrapolitica.wordpress.com/2009/08/15/bolhas-e-depressao-em-busca-das-causas-das-crises-do-capitalismo.

Leu? Viu essa parte?  "...e acaba tratando os EUA como um país qualquer..." Ela está acusando o autor de tratar o próprio país como um país qualquer. Achei isso bem interessante. Por que os Estados Unidos são um país qualquer. Escrevi um livro sobre minhas experiências em Nova York, pena que ainda não encontrei editora. O Moacyr disse que eu explico bem os EUA no livro, ia ser legal se publicassem. Não sei se é correto, mas sobre a Leda em Nova York vou contar uma pequena anedota.

Eu disse para ela, quando fosse voltar para casa, descer na Bergen Station. E foi o que fez, na Bergen Station da linha vermelha, se não me engano. Mas era para ter pego a linha laranja que passava perto de casa. Então não reconheceu o bairro, perguntou na vizinhança, reparou que tinha pego a linha errada, pegou de volta a linha vermelha, pegou a laranja e chegou em casa meio tarde.

Uma história banal, de a gente se perder na cidade grande. De um país qualquer.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DGOF prize "Best Research Thesis Award"

The German Society for Online Research (Deutsche Gesellschaft für Onlineforschung, DGOF) announces its Best Research Thesis Award. The prize has a value of 3000,- Euros. It will be given to students who have finished a thesis (Bachelor/Master/Ph.D.) in 2008 or 2009.

The submission deadline is: December 31, 2009.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Yom Kipur

A última vez em que não jejuei no Yom Kipur foi, se não me engano, em Nova York por volta de 1996. Fiquei no apartamento da Susanna no Upper East Side cozinhando para umas vinte pessoas, entre as quais o Mick e a Naomi e a Andrea Baiana. Estava também a Marla, irmã do cunhado no meu irmão. Era bastante gente. Até o pessoal do Upper East Side cometeu a imprudência de atravessar o Central Park (novaiorquino é muito bairrista) e veio nos visitar.

Desta vez, uma gripinha serviu de pretexto para minhas refeições no dia mais sagrado dos judeus. Mas a verdade é outra: eu não achava que devia jejuar. No fundo acreditava que tinha pagado os meus pecados e pronto. Tomei o primeiro gole de água do dia, à noite, quando voltei da sinagoga, feliz, me achando no direito. O café da manhã foi maravilhoso e sem culpas. Comi cada bocado de fruta e pão, tomei cada gole de leite e suco com um enorme prazer; eu merecia. Só a coxinha frita, feita pela Maria, que a Renata me serviu no almoço me abalou um pouco. Pois quem é que se acha digno de uma coxinha? Mas depois tomei café e ainda levei chocolate para casa.

À tarde havia chovido. Reclamei mentalmente com meu irmão por ter deixado uma janela aberta; tive que enxugar o chão. Mas depois eu mesma, na hora de sair, deixei a janela aberta. Então era melhor deixar por isso mesmo, pois era dia do Kipur e quem é que não deixou, no ano, uma janela aberta? Deitei, li todas as histórias da Morashá do último ano, histórias do meu povo cheio de histórias. Escutei um CD da Fortuna sem saber que ela estaria na sinagoga cantando. Enfim, fiz as rezas do meu jeito.

No dia anterior, na Hebraica, o cantor abriu a cerimônia falando do que ela representava para ele, vir todo ano cantar, a angústia do tempo passando. Depois se perguntou quem pode julgar quem, quem pode decretar se o outro é feliz, quando nossos momentos mais felizes não são mensuráveis nem públicos? E aí agradeceu estarmos todos juntos ali, naquele salão enorme, que já foi caótico e barulhento mas que agora parece tão correto, tão adequado, por mais um ano.

Eu estava muito feliz de estar ali. Me parecia ter atravessado um longo percurso até chegar ali de volta, então estava muito feliz. Somos só uma meia-dúzia, uns poucos judeus que decidiram vir ao Brasil. Se você vai ao exterior te perguntam: mas como é que seus antepassados tiveram essa idéia esdrúxula de ir ao Brasil? E você inventa alguma história que até pode ser verdadeira, mas é mais para mudar o assunto e calar o interlocutor.

Mas temos uma identidade, não? Não somos apenas uns judeus que foram parar num lugar quem nem propriamente latino-americano é, nem apenas uns brasileiros que marcam as festas religiosas em datas estranhas, não é verdade? Temos todos esses laços, com o Brasil e seus vizinhos, com Israel e com os países de onde nossos antepassados vieram, e algum dia ainda vamos entender mais profundamente os nossos laços com os cristãos-novos que para cá vieram - laços como judeus mas especialmente como brasileiros.

À parte esses laços todos, foi bom estar de volta, entre os meus. E eu curti cada momento desse dia, tirando até férias do jejum.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Primeiro Dia de Aula

Então antes d'ontem comecei a dar aulas. Dependendo de como conta, depois de 4 ou 12 meses. Gostei. Há problemas? Claro que há. A faculdade é longe dos grandes centros urbanos e de pesquisa. A gente sente isso. Mas senti garra de conhecer mais sobre o que acontece nesses centros, especialmente na sala de aula propriamente dita.

Outro problema, que eu modestamente já tinha diagnosticado na época da Resolução 3045, que me permitiu fazer uns cursos fora da minha faculdade lá pros idos da 9ª década do século passado, é que as pessoas ainda pensam em termos de disciplina. O conhecimento já é transdisciplinar não é de hoje, você sabe. Então toda aquele conversa de grade curricular - o termo é corretíssimo, é uma grade mesmo - fica um pouco démodé.

Com os alunos é muito divertido, pois eles tentam pensar em termos de grade, mas você nota o esforço, o desconforto. Como se houvesse algo fora do lugar, algo inadequado. Vestindo uma roupa muito justa, ou de tecido muito duro. Estão corretos, pois se as disciplinas deram forma ao conhecimento social na virada do século XIX para o XX, elas hoje são camisas-de-força que as instituições de ponta vão se livrando sem traumas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Moisés e o Monotransporte

Desci do ônibus pela frente me despedindo do motorista. Eu havia pago a passagem e pedido para o cobrador virar a catraca pois queria continuar o papo, que estava quente.

Tchau, Moisés. Eu sou a Heloisa.

Ele sorriu e perguntou: "Você é escritora?"

Sou, respondi, sem hesitar.

"Tem cara mesmo."

Mas o foco da conversa não tinha sido eu não. Tinha sido o trânsito de S. Paulo. Moisés, que faz a linha Sacomã-Pompéia, inconformado com o treinamento que tinham lhe dado hoje: pare para as bicicletas, nem buzine. Se ele se assustar e cair a responsabilidade é sua. A multa? "Não vai para o dono da empresa", o Moisés falou. Então era só isso o que faltava, andar atrás das bicicletas. "Eu ganho por hora, mas e o passageiro que tem hora marcada no HC, o que eu digo?" Moisés falou o número de pessoas que transporta por dia. "E o Lula achando que o Brasil depende da indústria automobilística e do petróleo, não é assim." Mas é seu conterrâneo, não, Moisés? "Que nada, sou cearence."

Disse com orgulho, era cearence. Fiquei com vontade de ir para lá, ir para um lugar onde as pessoas tem orgulho de vir. Em São Paulo está todo mundo querendo ser americano, havia me dito um rapaz no dia anterior. Não discordei.

Mas o melhor da conversa não foi a política. Foi a técnica. "E por que não fazem um corredor de ônibus? Ah, porque a Paulista vai perder seu charme. Sei, e esses carros todos aí são um charme?" Aí é que entrou a menção ao Lula e a sua visão retrógrada do progresso. São Bernardo anos 70.

Eu acho mesmo que perde o charme, Moisés, eu disse. Mas a faixa esclusiva para ciclista que você falou eu gostei. Podia ser a primeira, a da direita. Depois a dos ônibus, protegendo os pedestres, e depois duas para os carros, como você falou.

Então concordamos, estava resolvido. Por mim, indo até a Lapa. "Onde houver asfalto tem que ter faixa para bicicleta", ele emendou. Radical. "Quando o cara no carro vir que o ônibus anda e ele não, vai de bicicleta ou toma o ônibus."

"Mas você está achando que uma bicicleta ou outra vai te roubar o dia, não é assim. Que custa ficar atrás da bicicleta?" Aí o Moisés revelou: "Eu conheço todos os lados. Sou ciclista, tenho moto, tenho carro e dirijo ônibus."

O pedestre é que sofre mais, eu emendei. "O pedestre é o mais desprotegido, e o mais imprudente", ele me explicou. Deve ver coisas no trânsito de São Paulo.

E agora a lição: "Esses problemas todos de São Paulo, eu estou na rua e vejo. São fáceis de resolver. Mas quem está lá? Quem passa num desses concursos, não sabe nada, nunca tomou um ônibus na vida e vai lá decidir como a gente deve fazer as coisas."

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ich bin Brüno, dove of peace

O melhor do Brüno é o modo como cheguei lá: peguei o elevador da cobertura até o metrô, subi até a Paulista e em 15 minutos total estava no cinema. Paguei meia entrada. Enfim, vivo num agrupamento humano que posso chamar de cidade.

Achei que ia adorar, me matar de rir. A cena do Brüno num desfile de moda vestindo um macacão de velcro foi realmente gozada. Umas outras também. Mas nada que chegasse perto do Borat. Não que Borat seja melhor, acho que eu que mudei. Borat era a gozação de um estereótipo. Brüno me pareceu muito real.

Entre um filme e outro vi que a busca desenfreada pelo sucesso não é piada. Vi que aqueles agrupamentos em torno de identidades bestas não ficaram tão pra trás assim. Então não ri muito com o Brüno buscando uma causa como quem compra um carro novo. Me doeu. Eu vivi isso.

Adorei a cena com os árabes e os judeus. E depois com o guerrilheiro. Estão mais longe, não sei o que é verdade o que não é, fica "quaint" ver os dois primeiros concordando que homus é bom e o último se segurando para não perder a calma.

Saí de lá pensando que a gente não pode deixar esse cara (Borat diria: esse judeu) vir fazer filme no Brasil. Não pelo que os outros vão pensar de nós, para os outros tudo vai ficar engraçado e fofinho. Mas pelo que a gente, que se conhece bem, vai ver na tela.

domingo, 13 de setembro de 2009

Promessa paga

Em algum momento do ano passado fiz a seguinte promessa: chegando ao Brasil ia fazer um tour pela cidade e agradecer pessoalmente a cada um de meus avós por terem vindo e ficado nesse país.

Era uma promessa de uma perna só; eu não pedia nada em troca, apenas a pagaria. Mas as semanas acabaram correndo depressa: fui ao Rio duas vezes, revi amigos, fiz as feiras do Sumarezinho e da Vila Madalena, recebi minha família de Boston, visitei parentes, prestei concursos, fui ao festival literário de Paraty, encenei a peça Vatapum, escrevi dois artigos acadêmicos, fiz um exame Papanicolau.

Deixei meus avós de lado, um na Vila Mariana e três no Butantã, ao longo desses três meses. Mas hoje, um domingo ensolarado, ia ter uma cerimônia especial na Vila Mariana: o cemitério não estaria, portanto, desolado. Aproveitei e fui.

Deixei meu carro uma quadra acima da entrada. Passei pelo cemitério cristão e o moço me disse que o judaico era mais à frente. Entrei, e desci a rua larga que dá num predinho branco, provavelmente uma sala de rezas. Um pequeno grupo escutava um discurso à esquerda. À direita, zanzei por duas ruas buscando meu avô e bisavô, falecidos quase no mesmo ano.

Eu tinha ido lá para isso; para ver aqueles túmulos adornados por pequenas fotos. Mas quando os encontrei, logo colado à rua principal, me surpreendi. Estavam lá intactos, no mesmíssimo lugar. 1935. 1936. Um pesquisador ia publicar um livro sobre o Cemitério da Vila Mariana, nomes ilustres, gente antiga como diz uma tia minha.

Para preservar a memória.

Mas me espantei. Não tinham mudado nada. Golpes, inflações, mortes na família, estavam lá incólumes. Não sei como estarão seus primos na Venuzuela, mas no Brasil podem descansar em paz.

Havia duas pedrinhas no túmulo do bisavô Schnaider. Acho que foi engano, ele tinha homônimos. Ou será que o tio Isaac esteve em São Paulo? Algum amigo não terá sido. Outro dia encontrei um sujeito que foi colega da tia Polinha, conheceu meu bisavô. Será?

Ainda faltava os bisavós maternos. Rosa e Simon Dranger. Algumas letras caídas, meio mal-cuidados. Mas no mesmo lugar também. Rosa também é minha mãe, e minha sobrinha. Então consegui ver a Rosa e o Simon discutindo em Yidish, as crianças em volta, estão mais vivos. Mas no mesmo lugar.

E, por fim, do outro lado, tia Polinha, que morreu idosa, e tia Raquel, que não conheci, filhas do Jacob Schnaider. As duas com o título de Doutora na frente do nome. A pedra da tia Raquel desenhada pelo meu pai, toda reta, geométrica, nos anos 50. Estive lá apenas duas vezes, mas entrei na ruela certa logo de prima, vai entender.

A primeira parte da promessa eu cumpri. Agora falta o Butantã, vou na semana que vem. Mas acho que não vai haver surpresa alguma.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Uma história antiga

Essa história é bem antiga, e não sei porquê me deu ganas de narrar agora. Agora que está tudo mais ou menos resolvido. Mas lá vai:

Era meados dos anos 70, estávamos no Guarujá com minha avó. Meu pai trabalhava, provavelmente na Ajax, na Via Dutra. Era na época em que ele usava terno. Minha mãe chegou arrasada de S. Paulo, chorando e tudo o mais. Sentou à mesa e desabafou para uma senhora e duas crianças que pouco sabiam sobre política universitária.

A história era essa: haviam reprovado minha mãe no exame de qualificação do mestrado. Não foi falta de preparo; minha mãe entendia dos números, dos volumes e das probabilidades. Isso eu vi com meus próprios olhos, várias vezes, qualquer hora conto. Mas era para outro sujeito passar, e isso era, é, será razão suficiente. Então disseram: "Faltou elegância à sua prova."

E minha mãe engoliu essa: "Faltou elegância."

Mas não digeriu bem; ficou engolido na traquéia, sem chegar ao estômago, sem ser decomposto pelos ácidos que a gente produz e que nos permitem digerir as coisas mais duras.

Então ela catou os exercícios mais espinhosos de estatística que havia disponíveis nos livros, e os fez um por um. Fez todos, com a serenidade com que depois me explicou o que era afinal uma tabela Anova, com a serenidade com que depois interpretou os resultados dos seus exames de sangue, enfim, com aquela sua serenidade que ela reservava para os momentos de maior necessidade.

E num belo dia pediu explicações ao orientador para fazer o primeiro exercício da lista. E ele pediu um tempo para pensar. E na semana seguinte ela veio com o exercício pronto e pediu ajuda para fazer o segundo da lista. E ele pediu um tempo para pensar. E na semana seguinte ela continuou o processo, sempre muito educada, simpática, com seu batom barato que na sua boca ficava muito elegante.

Sempre, sempre muito elegante. Mesmo quando mandamos alguém tomar no cu é preciso manter a elegância, pronunciar bem as palavras e acertar nas concordâncias. Sempre.

Ao som de ABBA

Acordei hoje ao som de ABBA. "The winner takes it all" era a trilha sonora de um sonho, onde eu estava novamente na faculdade onde dei aulas no ano passado nos EUA. Só que o lugar parecia mais uma fazenda, com ovelhas, montanhas, minha família visitando. Coisa de sonho. Eu corria em câmera lenta e encontrei as dirigentes da faculdade.

Aí me deu na telha não falar em inglês com elas. Decidi, no sonho: vou falar só português. Inglês, só na sala de aula. E assim foi.

A idéia não era original, pois no dia anterior tinha escutado a seguinte história:

Um canadense nascido no Brasil vai ao consulado pedir passaporte, pois quer voltar à terra natal depois de 3 décadas fora. A mulher olha seus documentos e pergunta antipática: "Mas você é judeu?" Ele responde: "Não falo português. Fale comigo só em inglês." Ela vai para dentro, e reclama com o superior que havia um judeu pedindo passaporte brasileiro. O superior diz para deixar com ele e atende o moço normalmente.

Então, é isso: em certos momentos, o melhor é dizer que não fala a língua. Ou, em português, "dar uma de Mané".

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

De volta às aulas

Bom, é isso aí. Estou de volta ao blog e às aulas. No ano passado dei aulas?

Não sei, mas agora volto à UNESP, desta vez em Marília. Gente muito simpática, campus comum mas super bem cuidado. Em frente à universidade, atravessando a pista pela passarela, um restaurante onde almoçam os caminhoneiros da região: arroz, feijão, salada, cada dia uma carne diferente, ovo e uma verdura. Excelente, me dá água na boca só de pensar.

O campus todo com internet sem fio; a sala não tem telefone, mas quem é que precisa disso hoje? Então skypeei meu irmão e nos vimos ontem, ele em Boston e eu em Marília. Essa é a última semana de aulas, devido à greve suína, como ele diz. Na próxima semana é férias. E depois, em 21 de setembro, começa o segundo semestre de 2009.

Ainda acho que o professor deve compreender o espaço específico onde vai dar aulas, para que possa ajudar os alunos em seus processos de aprendizado. Mas aos 40 anos a gente está cansada. Então estou procurando entender o espaço onde vou dar aulas mas desviando dos trechos íngremes.

Vou contando aos poucos no blog o que acontece, mas não vou me prender à sala de aula. Se der vontade vou falar de outras coisas também. Preciso, por exemplo, enviar uma receita de macarrão ao funghi secchi para minha sobrinha, pois não deu tempo de fazer aqui e ela pediu.

E quem é que vai me dizer que não há mil ensinamentos numa receita de macarrão?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Prêmio Sobre Estudos sobre os EUA

Inscrições até dia 31 de julho, para monografias, teses e dissertações.

http://brasilia.usembassy.gov/index.php?action=materia&id=4190

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Bolsa da Fulbright

Bolsas de Estudo para Aperfeiçoamento Profissional nos Estados Unidos – Programa Hubert H. Humphrey



inscrições até 15 de junho de 2009


O Programa oferece bolsas de estudos nos Estados Unidos para profissionais brasileiros do setor público e do terceiro setor (ONGs) em meio de carreira, preferencialmente empreendedores sociais, com comprovado potencial de liderança e atuantes nas áreas de:
• Desenvolvimento e Economia Agrícola;
• Direito (com foco em Direitos Humanos);
• Drogas (Educação, Prevenção e Tratamento);
• Manejo de Recursos Naturais e Meio Ambiente;
• Planejamento Urbano e Regional (com foco em habitação popular);
• Políticas e Administração de Saúde Pública;
• Política e Administração de Tecnologia (com foco em inovação);
• Políticas e Planejamento Educacional (democratização, acesso e equidade do ensino superior);
• Tráfico de pessoas (políticas de prevenção).

Durante os onze meses de bolsa nos EUA os participantes terão oportunidade de ampliar e adquirir experiências profissionais relacionadas às suas áreas de trabalho, numa combinação acadêmica e profissional. As candidaturas serão avaliadas pelo Comitê de Seleção no Brasil, que indicará os candidatos brasileiros ao Comitê Internacional, responsável pela seleção final em nível mundial.

Terão prioridade candidatos:
• Provenientes de setores subrepresentados, por razões socioeconômicas, em programas internacionais de aprimoramento educacional e profissional;
• Talentosos, com capacidade de liderança, que queiram aprimorar seus conhecimentos em sua área de atuação;
• Com vinculação profissional com o setor público ou, preferencialmente com o terceiro setor (ONGs);
• Com experiência em trabalho ou atividades relacionadas ao desenvolvimento de sua comunidade, grupo social, região ou do País;
• Sem experiência educacional ou profissional no exterior.



Informações: www.fulbright.org.br