quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Um pequeno mundo

Às vezes também entramos nós numa sala com vontade de escutar e aprender. E como para nossos alunos, não é apenas a matéria apresentada que nos atrai.

Então entrei na sala onde iriam discutir a contribuição da escola de Columbia à sociologia. Era a segunda palestra do Professor Katz que eu via, então já parecia bajulação. Que parecesse; um pouco era mesmo, e a bajulação era uma boa desculpa para meu verdadeiro interesse, a mente daquele velho judeu que continuava a pensar sobre o mundo.

Então foi em Columbia que se reuniram os refugiados alemães, e passaram a fazer aqueles estudos sobre mídia. Não que se interessassem pela mídia, apenas pelo modo como as pessoas tomam decisão. Coca ou pepsi, ABC ou NBC, não importava. Mas como as pessoas decidem, quem influencia quem, o que fazem com o que lêem ou escutam? Perguntas perenes. Criaram um centro para captar recursos das grandes empresas, uma precursora de nossas Fipes. E depois colocavam os alunos de pós em empregos nos departamentos de pesquisa dessas mesmas empresas, quem influencia quem?

Anos 50, grandes progressos.

Mandaram o Adorno pesquisar a música de rádio. Mas, disse o Katz, ele não gostava do rádio, achava que não se ouvia bem nos aparelhos. E não gostava das músicas, deviam tocar Schoenberg! Então não deu certo, e essa foi a briga entre Adorno e Lazarfeld. Aí o palestrante mais novo disse que a cooperação não foi tão desastrosa, e que Adorno ensinou, de volta a Frankfurt, as técnicas de pesquisa aprendidas em Columbia.

Mas isso não era acurado, de acordo com um velho alemão sentado atrás de mim que levantou a mão e disse: “Professor Adorno não ensinou técnicas de pesquisa em Frankfurt; apenas seus assistentes o fizeram, pois o Instituto se preocupava com a capacidade de seus alunos de encontrar bons empregos.”

Recado dado, informação corrigida, missão cumprida. A fotografia de um geração que, por escolha ou não, construiu seu pequeno mundo, onde se podia brigar por gostar de Schoenberg e sempre haveria espaço para levantar a mão e dizer a verdade, seu pequeno mundo espalhado pelos quatro cantos do globo.

Um comentário:

Anônimo disse...

um pequeno mundo, que os bárbaros de arcand já invadiram.
abs
sg