domingo, 25 de outubro de 2009

Novo blog

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Novela maravilhosamente...

ruim. Mas tudo bem, vejo quando posso, e adoro. Hoje teve imagens daquelas ruínas romanas da Jordânia, que coisa bonita. Se não fosse o canastra do Thiago Lacerda seria um espetáculo, mesmo com a modelo vestida para desfile andando naquele sol acachapante. Encontro com estranhos em viagem eu tive a minha cota, e garanto que nunca tem a ceninha da cobra. Paris não foi tão legal, ficou mais no quarto do hotel do Projac mesmo. Mas Petra foi supimpa.

As tramas não te envolvem de jeito nenhum, uns romances insossos. Ai, saudades do Felipe Barreto, do Renata Mendes, vilão com nome e sobrenome. Mas é ótimo, você fica vendo o mar de Búzios, se imaginando na pousadinha comendo peixe com molho de maracujá, farofa de banana e tomando caipirinha de jabuticaba, ou sei lá o que que esse povo de pousada inventa. Sem ninguém para se identificar, sem ninguém para projetar seus problemas e angústias, uma nova dimensão à palavra alienação. Que novela boa.

O Rio também fica muito bem na novela. As cores bem vivas, as paisagens espetaculares. E ninguém na tela, nem uma pessoazinha dando o duro que você dá, é uma pausa mesmo na vida. Tem bêbada e adolescente grávida, isso tem. O que decidamente não é minha praia, a nível de problema. Até drama francês tem mais a ver. Uma suspensão cerebral. Tanto falaram mal da novela que eles resolveram fazer uma assim. "Ah, é? Chiclete pros olhos? Agora vocês vão ver o que é chiclete pros olhos!"

Só tem aquele suspense de que a cada segundo alguém vai bater o carro e se espatifar todo. Ou a lancha, pois tudo na Globo é mais upgraded que na vida real. Mas eu não me preocupo. Só vejo os sorrisos na tela como mais artificiais ainda, mais remotos ainda, mais parte de uma paisagem que eu até queria fazer parte, quem sabe em Janeiro? Quem sabe não vou para Petra em janeiro, de bermuda, viseira e Timberlands?

Ou para o Rio, que é bem perto. Ou para Búzios. Paraty. Tá bom, Ubatuba. Quem sabe não vou em janeiro para Ubatuba?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sucesso de crítica e público!

Disse minha sobrinha: "eu assisti e adorei!" Então fui consagrada por esse estrondoso sucesso de público e crítica, internacional ainda por cima. Veja em http://www.teatroparaalguem.com.br/casa.

Mas duas coisas me impressionaram nessa experiência de ver um conto meu representado no teatro. A primeira, a interpretação de Priscila Gontijo, que cria um novo personagem baseado na lembrança que tenho do meu pai. Aquele diálogo que tive com meu pai, anos atrás, registrado no papel, vira uma outra coisa ali no palco. Que é meu pai mas ao mesmo tempo é um pai geral que "nunca fez um elogio rasgado" mas que encontra na filha uma interlocutora. A direção da Renata também foi muito bacana, mas não foi surpresa: eu já tinha visto ela em ação em "O Vatapum", breve no YouTube.

A outra coisa que me surpreendeu, me deixou feliz mesmo, foi a conversa pós-peça com José Pinheiro, o Lucas do Estadão e quem mais se sentou à mesa de jantar para ficar papeando. Pois falamos de tudo: de cultura, de inserção social, de novos meios, de pedagogia, dos jovens, do financiamento das artes, de tudo mesmo. Se aquilo não foi uma sala de aula, não sei o que seja.

A uma certa altura a Priscila conta o que faz nos Céus, traz livros, referências. Traz Dostoievski e Caio Fernando Abreu. Distribui, pede que escolham, trabalha em cima, os alunos adoram. "Por que me dizem para não impor minhas referências?" Ela perguntou querendo saber mesmo, querendo a opinião da roda. Eu contei que era a pedagogia moderna mal compreendida, do respeito às referências do aluno se passou sem pensar à imobilidade docente. "Mas não lute contra," aconselhei. "Faça seu trabalho que é correto e deixe essa discussão de lado, pois a batalha é inglória."

Mas não contei que meu pai trazia livros grandes e pesados, subia as escadas da Belas Artes arfando para mostrar aos alunos. Pois ela havia interpretado o meu pai, então ele já estava ali de tantas formas que seria até exagero.

O "Teatro para Alguém", para mim, ficou como um espaço de reflexão e de produção simples, sem frescura, de significados, um lugar para dar vida às coisas. Precisa se financiar, claro, mas precisa também manter essa coisa simples, sem burocracia, de criar textos, chamar gente, criar sentidos. Fazer acontecer. Um palco na casa e uma conexão na internet.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Deu no Estadão!


O time do povão

Maravilhada com o jogo, fui discutir com os alunos, numa turma muito dedicada onde há um marxista. Mas um marxista como hoje em dia só há em Marília, não se encontra mais em outras partes do mundo. Em minha fase zen, não o confronto quando fala em ideologias burguesas, pois aprendi que a gente na sala de aula tem que mostrar novos horizontes, e não debater política.

Falei dos vendedores ambulantes que mais pareciam mordomos, nos mostrando o lugar onde sentar e até o amigo perdido na multidão. Falei do policial que me recebeu como se fosse também um cavaleiro da rainha para a festa da coroação, muito diferente da expectativa que eu tinha, de ser tratada como gado. Não contei que fiquei desapontada com o policial não me revistar, mas essas coisas na sala de aula a gente não conta.

Falei da festa que é um jogo, mas também dos palavrões ditos por todos contra todos, e que naquele clima de festa pareciam não ferir, não incomodar ninguém. Recomendei às meninas que fossem ver jogos de futebol, pois aquela sociabilidade é a sociabilidade de verdade dos brasileiros, que penetra na sala de aula e deixa os pedagogos aflitos, então é bom entendê-la.

Os alunos me contaram que quando joga o Corinthians quem não é corinthiano sempre torce contra, independentemente do adversário. Eu fiquei chocada, é verdade isso? Dizem que no interior ao menos é assim. Mas por que, eu perguntei, é assim? Inveja não será, pois o time tem suas fases ruins. Havíamos lido Simmel, que estuda as formas sociais, os conflitos independentemente de seus conteúdos. Então aí havia um exemplo concreto onde eu poderia empregar os conceitos do autor, mostrando como a sociologia pode ser uma ciência viva.

Foram tentando explicações. Um disse: por isso mesmo, a torcida é unida, e cresce com as dificuldades. Aí está um motivo de acirramento da rivalidade, um adversário que cresce com a adversidade dá raiva mesmo. Impossível de derrotar. O marxista soltou: Corinthians é um time do povão, da massa, então eles têm raiva mesmo.

As alunas da frente olharam para mim. Será que agora eu iria contestar? Aquilo era o fim da fase zen? "Ele tem razão", eu disse. Acho que é isso mesmo. O time do povão.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Por que me ufano de meu país

Achei que chegando aqui esse deslumbramento com o Brasil durasse duas semanas. Matada a saudade, ia voltar logo o espírito lacerdista que todo brasileiro alfabetizado tem dentro si, essa vontade de achar erros em tudo e equívocos em todos.


Mas não. Já lá se vão 4 meses, e nada. Continuo encantada. Maravilhada. As tramóias do José Sarney - o colapso da instituição senado federal, dizem os críticos que eu respeito - me parecem meio quaint, meio fofinhas. A censura ao Estadão me preocupa, mas é agora uma preocupação mais racional que indignada.

Então, ainda cumprindo um programa que eu não sei se é de turista que bate palmas ou de brasileiro apaixonado, fui ao Estádio do Pacaembu ver o Corinthians jogar. Olhem só a foto, a Gaviões ao fundo. Fui mesmo.

Antes, tinha visto o mesmo Corinthians jogar no Morumbi contra o Palmeiras, com o Felipão e o Jarbas. E em New Jersey vi o Brasil contra o resto do mundo, depois de uma copa que vencemos. Quem pagou foi a companhia telefônica, com quem eu deixava uma boa parte da bolsa.

O primeiro tempo foi lindo. Me envolvi, torci, prendi a respiração, celebrei, levantei da cadeira com a torcida, muito gozado. Depois cansei um pouco, os jogadores também. Dois gaúchos foram em cima do Ronaldo e ele caiu. Me dei conta de que ele era um sujeito de verdade, que até morava em São Paulo, antes para mim ele era um produto, uma coisa da mídia, sei lá. Mas ali estava ele, pertinho, gordo, artilheiro, no chão.

Entendi todas as regras. Vocês não sabem o que é ver um jogo de futebol americano inteiro sem entender patavinas. Final do campeonato. Na casa de totais desconhecidos que, essas coisas mágicas de visitantes em cidades estranhas, me acolheram como da família, me explicaram as regras que só no finalzinho compreendi.

Ainda continua.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Malpertuis

Ontem fui ver Malpertuis, filme dos anos 70 no qual Orson Welles atua. Num papel estilo Marlon Brando em Apocalypse Now. Havia outros filmes que eu queria ver, mas Malpertuis me marcou muito quando o vi, há 20 anos, e queria revê-lo, me rever.

O filme é onírico. Você não sabe o que é real e o que não é. De fato, eu me lembrava do personagem principal correndo nas ruas de uma antiga cidade meio deserta, como fazemos nos sonhos, em busca de algo meio arbitrário. No filme, ele - Yann? - entra e sai de três realidades distintas - há uma quarta ainda a que eles se referem - mas nas três Yann é sempre levado, empurrado, atraído. Nunca faz de fato nada. Sempre, como nos sonhos, vai com a corrente, surpreso, incomformado.

Eu adorei esse filme quando o vi na faculdade. Lembrava da roupa branca e solta do protagonista. Lembrava da cidade deserta. Não lembrava tanto de Malpertuis, o casarão onde se passa a maior parte da ação, Orson Welles, o enredo. Isso, não lembrava do enredo. Mas por que gostei do filme? Como é que não achei barroco? O que vi de erótico no portagonista andrógeno?

Fiquei tentando falar comigo, entrar em outro plano. A cada pulo do filme eu tentava eu mesma pular naquela outra realidade, anos 80, faculdade, talvez o mesmo cinema, Belas Artes. Ou, mais provável, Cinemateca em Pinheiros. Malpertuis.

Mas o filme, a película, estava gasta. E o filme que eu havia visto tinha cores fortes. A filmagem era brilhante, e nessa havia aquela estética anos 70, démodé. O homem bonito me pareceu por demais o Brüno, loiro e afetado. As referências aos deuses gregos meio forçadas. O advogado algoz, estilo Rosencrantz e Guildenstern, me incomodou.

Então essas passagens abruptas de uma realidade a outra ficaram no filme mesmo. Eu mesma, estudante, não estava lá, não abri uma porta qualquer e me vi. Voltei sozinha, real.