terça-feira, 13 de outubro de 2009

Malpertuis

Ontem fui ver Malpertuis, filme dos anos 70 no qual Orson Welles atua. Num papel estilo Marlon Brando em Apocalypse Now. Havia outros filmes que eu queria ver, mas Malpertuis me marcou muito quando o vi, há 20 anos, e queria revê-lo, me rever.

O filme é onírico. Você não sabe o que é real e o que não é. De fato, eu me lembrava do personagem principal correndo nas ruas de uma antiga cidade meio deserta, como fazemos nos sonhos, em busca de algo meio arbitrário. No filme, ele - Yann? - entra e sai de três realidades distintas - há uma quarta ainda a que eles se referem - mas nas três Yann é sempre levado, empurrado, atraído. Nunca faz de fato nada. Sempre, como nos sonhos, vai com a corrente, surpreso, incomformado.

Eu adorei esse filme quando o vi na faculdade. Lembrava da roupa branca e solta do protagonista. Lembrava da cidade deserta. Não lembrava tanto de Malpertuis, o casarão onde se passa a maior parte da ação, Orson Welles, o enredo. Isso, não lembrava do enredo. Mas por que gostei do filme? Como é que não achei barroco? O que vi de erótico no portagonista andrógeno?

Fiquei tentando falar comigo, entrar em outro plano. A cada pulo do filme eu tentava eu mesma pular naquela outra realidade, anos 80, faculdade, talvez o mesmo cinema, Belas Artes. Ou, mais provável, Cinemateca em Pinheiros. Malpertuis.

Mas o filme, a película, estava gasta. E o filme que eu havia visto tinha cores fortes. A filmagem era brilhante, e nessa havia aquela estética anos 70, démodé. O homem bonito me pareceu por demais o Brüno, loiro e afetado. As referências aos deuses gregos meio forçadas. O advogado algoz, estilo Rosencrantz e Guildenstern, me incomodou.

Então essas passagens abruptas de uma realidade a outra ficaram no filme mesmo. Eu mesma, estudante, não estava lá, não abri uma porta qualquer e me vi. Voltei sozinha, real.

4 comentários:

Anônimo disse...

sobre malpertuis, uma vez pedi a um psicologo que me descrevesse uma pessoa sã. "é quem consegue entrar e sair dos 'quartos' de sua mente quando quiser", foi a resposta.
abs
sgold

Anônimo disse...

Esse filme na realidade é uma critica as regras do comportamento social ocidental. Se voce reparar bem no filme, todos os herdeiros interpretão cada um um deus da mitologia Grega, os quais regem as nossa leis sociais de comportamento humano. Olhe a história da mitologia Grega e compare cada interprete, inclusive a blasfêmea contra o cristinismo, quando o padre tenta espantar os deuses desafiadores do poder...

Anônimo disse...

desculpa, Interpretam.

Antonio disse...

Assisti este filme em meados dos anos 80, no Cinesesc. Na época achei uma grande viagem, com mil interpretações possíveis, mas muito curioso de forma geral, a fotografia com colorido marcante, personagens mitológicos, mas sem dúvida o que costurava o todo, era a presença de Orson Weles, este sim, um ator mítico. Voltei a assistir uns dez anos depois, mas já não enxerguei com os mesmos olhos. Qual será a resposta para esta impressão. Aos que passaram por experiência semelhante cabe refletir.

Antonio Carlos