domingo, 13 de setembro de 2009

Promessa paga

Em algum momento do ano passado fiz a seguinte promessa: chegando ao Brasil ia fazer um tour pela cidade e agradecer pessoalmente a cada um de meus avós por terem vindo e ficado nesse país.

Era uma promessa de uma perna só; eu não pedia nada em troca, apenas a pagaria. Mas as semanas acabaram correndo depressa: fui ao Rio duas vezes, revi amigos, fiz as feiras do Sumarezinho e da Vila Madalena, recebi minha família de Boston, visitei parentes, prestei concursos, fui ao festival literário de Paraty, encenei a peça Vatapum, escrevi dois artigos acadêmicos, fiz um exame Papanicolau.

Deixei meus avós de lado, um na Vila Mariana e três no Butantã, ao longo desses três meses. Mas hoje, um domingo ensolarado, ia ter uma cerimônia especial na Vila Mariana: o cemitério não estaria, portanto, desolado. Aproveitei e fui.

Deixei meu carro uma quadra acima da entrada. Passei pelo cemitério cristão e o moço me disse que o judaico era mais à frente. Entrei, e desci a rua larga que dá num predinho branco, provavelmente uma sala de rezas. Um pequeno grupo escutava um discurso à esquerda. À direita, zanzei por duas ruas buscando meu avô e bisavô, falecidos quase no mesmo ano.

Eu tinha ido lá para isso; para ver aqueles túmulos adornados por pequenas fotos. Mas quando os encontrei, logo colado à rua principal, me surpreendi. Estavam lá intactos, no mesmíssimo lugar. 1935. 1936. Um pesquisador ia publicar um livro sobre o Cemitério da Vila Mariana, nomes ilustres, gente antiga como diz uma tia minha.

Para preservar a memória.

Mas me espantei. Não tinham mudado nada. Golpes, inflações, mortes na família, estavam lá incólumes. Não sei como estarão seus primos na Venuzuela, mas no Brasil podem descansar em paz.

Havia duas pedrinhas no túmulo do bisavô Schnaider. Acho que foi engano, ele tinha homônimos. Ou será que o tio Isaac esteve em São Paulo? Algum amigo não terá sido. Outro dia encontrei um sujeito que foi colega da tia Polinha, conheceu meu bisavô. Será?

Ainda faltava os bisavós maternos. Rosa e Simon Dranger. Algumas letras caídas, meio mal-cuidados. Mas no mesmo lugar também. Rosa também é minha mãe, e minha sobrinha. Então consegui ver a Rosa e o Simon discutindo em Yidish, as crianças em volta, estão mais vivos. Mas no mesmo lugar.

E, por fim, do outro lado, tia Polinha, que morreu idosa, e tia Raquel, que não conheci, filhas do Jacob Schnaider. As duas com o título de Doutora na frente do nome. A pedra da tia Raquel desenhada pelo meu pai, toda reta, geométrica, nos anos 50. Estive lá apenas duas vezes, mas entrei na ruela certa logo de prima, vai entender.

A primeira parte da promessa eu cumpri. Agora falta o Butantã, vou na semana que vem. Mas acho que não vai haver surpresa alguma.

Um comentário:

Unknown disse...

Prezada Helena
Meu nome é Henrique Samet e sou Prof. na UFRJ com Doutorado em História. Eu faço pesquisas sobre a comunidade judaica no Brasil e me deparei com o nome de Simon Dranger aqui no Rio em 1910 na criação do Centro Israelita do Rio de Janeiro.
Tenho alguns poucos dados a respeito dele (ou de homônimos) mas gostaria de saber se posso contar com sua colaboração. Meu e mail é hsamet@superig.com.br